Vol. 1 No. 20250910-948 (2025)

Alerta de Segurança: Vulnerabilidade Ativamente Explorada em Roteadores TP-Link

Adriano Cansian | adriano.cansian@unesp.br | 10/09/2025

Ameaça real a redes domésticas e corporativas

Nos últimos dias, a comunidade de segurança da informação voltou sua atenção para uma vulnerabilidade crítica que afeta roteadores da TP-Link, um dos fabricantes mais populares de equipamentos de rede do mundo.

Ainda que eu não acredite que essa vulnerabilidade sozinha possa representar grande risco para atores que não sejam de alto interesse, o uso combinado dessa vulnerabilidade com outras pode levar algum risco significativo, principalmente para pequenos negócios. De qualquer forma, não é bom ficar com vulnerabilidades em sua casa ou na sua empresa. Então, vamos explicar do que ela se trata e como mitigá-la, visto que o produto é descontinuado e ela não terá conserto definitivo.

A falha, identificada como CVE-2023-50224 está sendo ativamente explorada por agentes maliciosos, o que levou a Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA (CISA) a incluí-la em seu catálogo de vulnerabilidades conhecidas e exploradas (KEV). Não é uma vulnerabilidade teórica. A exploração ativa desta falha é antiga e remonta a 2023, sendo atribuída a uma botnet com objetivos de espionagem.

Análise da vulnerabilidade CVE-2023-50224

  • Descrição: trata-se de uma vulnerabilidade de evasão de autenticação por spoofing no serviço httpd do roteador TP-Link TL-WR841N. A falha permite que um atacante acesse o arquivo /tmp/dropbear/dropbearpwd, que contém credenciais de usuário, sem precisar de autenticação. Essencialmente, a vulnerabilidade abre uma porta para o roubo de senhas do roteador.
  • Produtos afetados: O principal produto afetado é o TP-Link TL-WR841N, um modelo extremamente popular e amplamente utilizado em residências e pequenos escritórios. Infelizmente, este modelo é considerado End-of-Life (EoL), o que significa que o fabricante não fornecerá mais atualizações de firmware para corrigir a falha.
  • Data de publicação: A vulnerabilidade foi divulgada publicamente em 19 de dezembro de 2023, mas foi adicionada ao catálogo KEV da CISA em 3 de setembro de 2025, após a confirmação de exploração ativa.
  • Severidade: Média (CVSS v3.1: 6.5 - AV:A/AC:L/PR:N/UI:N/S:U/C:H/I:N/A:N). Embora a pontuação não seja classificada como “Crítica”, o impacto real, se explorada, é extremamente alto devido à facilidade de exploração e ao fato de levar ao comprometimento total do dispositivo.
  • EPSS: 4.50% (baixa probabilidade de exploração nos próximos 30 dias).
  • Percentil EPSS: 88.70% indica que a pontuação é igual ou superior à de aproximadamente 88.7% das outras vulnerabilidades catalogadas, representando um risco significativamente elevado. Entenda mais sobre “percentil” no EPSS [nesse link].
  • Outras informações: A exploração desta vulnerabilidade está associada à botnet Quad7 (também conhecida como CovertNetwork-1658), que tem sido ligada a grupos de ameaças com objetivos de espionagem. Em vez de usar os roteadores para ataques de negação de serviço (DDoS), os atacantes os transformam em proxies secretos para lançar outros ataques, como roubo de credenciais de serviços em nuvem (Microsoft 365, etc.).

O Impacto Real: O Que Significa Para Você?

O comprometimento de um roteador vai muito além da simples perda de acesso à internet. Um atacante com controle sobre seu roteador pode:

  1. Interceptar todo o seu tráfego de internet: Isso inclui senhas, dados bancários, e-mails e qualquer outra informação não criptografada que passe pela sua rede.
  2. Redirecionar seu tráfego para sites falsos: O atacante pode realizar ataques de phishing em nível de rede, redirecionando você para um site falso do seu banco, por exemplo, para roubar suas credenciais.
  3. Usar sua rede para atividades ilegais: Como mencionado, os roteadores comprometidos estão sendo usados como uma rede de proxies para lançar ataques contra outras vítimas. Isso significa que sua rede pode ser implicada em atividades criminosas.
  4. Atacar outros dispositivos na sua rede: O roteador pode ser usado como um ponto de partida para atacar outros dispositivos conectados à sua rede local, como computadores, smartphones e dispositivos de IoT (câmeras, assistentes de voz, etc.).

O fato de o TP-Link TL-WR841N ser um dispositivo EoL agrava enormemente o risco. Não haverá uma correção oficial do fabricante. Se você possui este roteador, ele permanecerá vulnerável para sempre.

Recomendações: O Que Fazer Agora?

Dado o risco e a falta de um patch, a recomendação é clara e urgente.

Mitigação Primária (Ação Imediata)

  • Substitua o roteador imediatamente: Esta é a única maneira de garantir que sua rede esteja protegida contra esta vulnerabilidade. Desconecte o TP-Link TL-WR841N e substitua-o por um modelo de um fabricante confiável que ainda receba atualizações de segurança.

Mitigações Secundárias (Medidas Paliativas)

Se a substituição imediata não for possível, tome as seguintes medidas para reduzir o risco, mas entenda que elas não eliminam a vulnerabilidade:

  • Desative o gerenciamento remoto: Certifique-se de que o painel de administração do seu roteador não esteja acessível a partir da internet (WAN).
  • Altere a senha do administrador: Use uma senha forte e exclusiva. Embora a vulnerabilidade permita o roubo dessa senha, alterá-la pode dificultar o acesso se o atacante ainda não tiver explorado a falha.
  • Isole a rede: Se possível, crie uma rede de convidados (Guest Network) para dispositivos menos confiáveis e use a rede principal somente para dispositivos essenciais.

Conclusão

Verifique o modelo do seu roteador. Se for um TP-Link TL-WR841N, é recomendado que você adote as medidas de mitigação. A CVE-2023-50224 é um lembrete dos perigos associados ao uso de hardware de rede desatualizado. Roteadores são a porta de entrada para a internet e, quando comprometidos, colocam toda a sua vida digital em risco. A exploração ativa desta falha por grupos organizados mostra que mesmo vulnerabilidades de severidade “Média” podem ter consequências devastadoras no mundo real.

Referências

Vol. 1 No. 20250905-919 (2025)

A Importância de Categorizar Vulnerabilidades

João Paulo Gonsales | jgonsales@cylo.com.br | 05/09/2025

Com o aumento do número de vulnerabilidades descobertas diariamente, conhecer e saber categoriza-las no ambiente que está sendo gerenciado pela equipe de segurança se torna uma medida importante para mitigar os riscos de segurança em um ambiente de T.I.   

A etapa da categorização das vulnerabilidades se torna fundamental para a equipe realizar a gestão do risco de forma eficiente e estruturar as ações de defesa do ambiente. Entendendo o que elas representam e seu potencial impacto, conseguimos elaborar um plano de ação mais eficiente e priorizar as ações de defesa. 

Para ajudar na categorização, podemos utilizar alguns indicadores padrões de mercado que vão nos ajudar a direcionar o esforço, por exemplo o CVSS e o EPSS. 

O CVSS (Common Vulnerability Scoring System), é um indicador padrão utilizado para medir a severidade de vulnerabilidades com um sistema de pontuação padronizado para avaliar e realizar a comparação da gravidade das vulnerabilidades de segurança, aplicando medidas quantitativa para medir o potencial de impacto da vulnerabilidade. 

O CVSS atribui pontuações numéricas com base em diferentes métricas, onde este cálculo ajuda a equipe de segurança a priorizar os seus esforços para a correlação de vulnerabilidades e apoiar para uma melhor tomada de decisão para correção ou mitigação das vulnerabilidades. 

Para realizar o seu cálculo, o CVSS, vamos exemplificar baseado na versão 3.X, utiliza algumas métricas como principais, como métricas de Base, Temporal e Ambiental. Cada métrica possui características diferentes e um peso no cálculo da pontuação da CVSS. 

  •  Métrica de Base são métricas onde são avaliados o potencial dano que a vulnerabilidade pode causar no ambiente, facilidade de exploração e a complexidade do atacante conseguir realizar o ataque bem sucedido. 
  • Métrica Temporal são métricas onde são avaliados a evolução da vulnerabilidade ao longo do tempo, podendo incluir algumas características que são considerados no calculo da sua pontuação, como a maturidade do exploit, facilidade da sua correção, confiabilidade da fonte da informação e a quantidade de evidencias disponíveis. 
  •  Métrica Ambiental são métricas relacionadas a importância do impacto real para a organização em particular, baseadas em controles de mitigação que podem existir no ambiente para reduzir ou aumentar o impacto da vulnerabilidade ser explorada no ambiente. 

      Fig. 1 – Exemplo – Calculadora CVSS V3.0 –   Common Vulnerability Scoring System Version 3.0 Calculator 

Diante do número elevado de CVSS dos ambientes e com as equipes de segurança enfrentando uma grande dificuldade para priorizar as correções. Um grupo de pesquisadores do FIRST (Forum of Incident Response and Security Teams – https://www.first.org/about/), pensando em resolver esse problema, desenvolveu o EPSS, um modelo para calcular informações sobre exploração das vulnerabilidades e apoiar no direcionamento melhor das ações de correção de vulnerabilidades pela equipe.

EPSS (Exploit Prediction Scoring System), fornece um “score” que é um indicador baseado em dados do CVSS para estimar a probabilidade de uma vulnerabilidade de software estar sendo explorada ativamente no ambiente, cujo seu objetivo, é auxiliar a equipe de segurança a priorizar os esforços de correção de vulnerabilidades com base no EPSS score. 

O EPSS fornece uma perspectiva mais dinâmica e contextual, permitindo que as equipes priorizem vulnerabilidades que estão ativamente sendo exploradas, mesmo que tenham um score no CVSS baixo. 

Correlacionando dados de CVSS + EPSS e aplicando inteligencia artificial, concluimos o valor do “Score EPSS”, um indicador mais robusto para a categorização de vulnerabilidades, onde podemos exemplificar conforme informações abaixo : 

  • CVSS alto + EPSS alto = prioridade máxima 
  • CVSS alto + EPSS baixo = monitoramento e mitigação planejada 
  • CVSS baixo + EPSS alto = atenção especial, pois pode indicar ataques em andamento 
  • CVSS baixo + EPSS baixo = menor prioridade

EPSS Score – https://www.first.org/epss/data_stats

Com essa informação, conseguimos que as equipe realizem uma gestão de risco mais inteligente, baseada não apenas em um unico indicador, mas também relacionando com a probabilidade real de ataque. 

Categorizar as vulnerabilidades com base em métricas como CVSS e EPSS é essencial para uma resposta proativa e eficiente às ameaças cibernéticas. Em vez de reagir a cada alerta, as organizações podem tomar decisões assertivas, proteger seus ativos mais críticos e manter a confiança de seus clientes e parceiros.