Vol. 1 No. 20250717-774 (2025)

Os perigos de utilizar hotspot não autorizados no ambiente corporativo 

João Paulo Gonsales | jgonsales@cylo.com.br | 17/07/2025

Frequentemente analisamos um tipo de alerta preocupante : colaboradores dentro do ambiente corporativo compartilhando a internet móvel não autorizado com um dispositivo empresarial, criando com os seus dispositivos hotspots móveis e não autorizados pela organização. Embora possa parecer uma solução inofensiva ou um “atalho” para a conectividade, esse comportamento abre as portas para uma série de riscos graves que podem comprometer toda a segurança da sua organização.

Quando um hotspot móvel não autorizado é ativado, ele faz um bypass em diversas camadas de segurança da organização, é como se abríssemos uma “porta” não autorizada, favorecendo ameaças como ataques do tipo man-in-the-middle, risco para vazamento de dados ou outras ameaças, como um vírus, malware e até um Ransoware no ambiente.

Sobre os alertas analisados, notamos que durante a ação de compartilhar da conexão, criando um hotspot, o dispositivo conectado na rede recebe a faixa de IP 192.168.137.x, e por ser uma faixa de endereço privada e desconhecida dentro do ambiente , que a princípio gerou algumas dificuldades durante a analise, mas com o apoio da documentação da Microsoft e outros fatores presentes no log, verificamos que este endereço é um range padrão, atribuído pelo Windows e utilizado pelo serviço Compartilhamento de Conexão com a Internet (ICS).  

Conforme definido no learn da Microsoft, o serviço de ICS seria o driver atras de Wi-Fi pessoal que, por padrão, o ICS configura o seu computador (o host do hotspot) com o endereço IP 192.168.137.1 e após atribuir este IP, o serviço age como um servidor DHCP (Dynamic Host Configuration Protocol), atribuindo endereços IP aos dispositivos que se conectam ao hotspot, começando geralmente do 192.168.137.x.

Como mencionado acima, esta faixa de IP é de uma rede privada, designada para uso interno, o que significa que os endereços não são roteáveis diretamente na internet e utilizando a máscara padrão com o endereço 255.255.255.0, disponibilizando um range de 254 endereços IP para dispositivos conectados, tirando endereços de gateway e broadcast. 

Esta faixa de endereço pode ser alterado nas configurações do sistema, mas até o momento deste texto, os alertas analisados continham a faixa “padrão”, com o endereço IP 192.168.137.x. 

Por que esta faixa de IP específica? 

 A escolha da faixa 192.168.137.x foi uma convenção estabelecida pela Microsoft para o funcionamento do ICS, ela evita conflitos com outras redes já documentadas e utilizadas em ambientes domésticos ou corporativos (como as populares 192.168.0.x ou 192.168.1.x), garantindo que o seu hotspot possa operar sem problemas, independentemente da rede à qual seu computador principal está conectado. 

 Conexões rede origem e destino resolvendo DNS pelo 192.168.137.x 

Este tipo de ação no ambiente corporativo se torna muito preocupante, onde no cenário atual de flexibilidade no trabalho, onde o home office e os inúmeros dispositivos moveis pessoais no ambiente , gera preocupações de controle para estes dispositivos que, por um lado, a sua utilização pode ser “desculpa” para aumentar a produtividade, mas por outro lado, o mesmo pode ser utilizado para tentar quebrar os controles de segurança de rede dentro das empresas, e com essa pratica, as vezes inocente por parte de quem está utilizando, compromete os controles de segurança da informação e eleva os riscos significativos para a infraestrutura da empresa. 

Para mitigar e melhorar os controles para estes dispositivos, podemos adotar praticas que vão além do monitoramento, como a definição de políticas claras de PSI, implantando a sua conscientização, treinamento para os colaboradores e adoção de ferramentas de MDM (Gerenciamento de Dispositivos Móveis), onde com este recurso podemos aplicar políticas de segurança para os dispositivos moveis, monitorar e controlar o uso de dispositivos corporativos, incluindo a capacidade de criar hotspots.

 Referências :

Vol. 1 No. 20250530-596 (2025)

A importância do SOC na Cibersegurança.

João Paulo Gonsales | jgonsales@cylo.com.br | 30/05/2025

Durante um treinamento recente em Cibersegurança, focado em “Foundations of Incident Management”, entre muitos temas importantes abordados no treinamento, um ponto crucial se destacou: a importância de uma resposta rápida e coordenada a eventos de Segurança da Informação.

Em um cenário onde a tecnologia está em constante evolução, com a área de cibersegurança não seria diferente, a rápida evolução das ameaças e a forma de como os ataques cibernéticos são realizados, a segurança digital para as organizações deixou de ser um diferencial para se tornar uma necessidade e, uma pergunta que não podemos ignorar para as organizações é, “não é se a sua empresa será atacada ou não, mas quando. O ataque será efetivo?” Seguindo neste contexto, um Security Operations Center (SOC) se destaca como uma peça fundamental na estratégia de defesa para as organizações, adicionando uma camada de proteção no ambiente de tecnologia e se tornando essencial para uma melhor resiliência cibernética. 

Podemos definir o SOC como um centro especializado em segurança cibernética, responsável pelo monitoramento, detecção e resposta para incidentes de segurança. Utilizando tecnologias avançadas e composto por equipes de especialistas em cibersegurança, tecnologias em geral e processos, ele opera com o objetivo de identificar e responder as ameaças em tempo real, adicionando uma camada essencial para a resiliência cibernética das organizações e minimizando os riscos que possam causar danos significativos.  

Vamos relacionar um SOC como uma “torre de controle” com foco para a segurança da informação da sua empresa, onde com uma equipe especializada, são realizados a monitoração dos dados do ambiente,  comportamentos suspeitos , tráfego de rede, sistemas, aplicativos e dispositivos em busca de qualquer atividade suspeita. 

Oferecendo uma camada de proteção proativa, o trabalho e a importância de um SOC vai muito além da simples detecção de ameaças, onde podemos destacar um pouco mais das suas atividades ; 

  • Detecção rápida de eventos de segurança : Pesquisas indicam que o tempo médio de permanência de um invasor no ambiente de rede pode chegar em 200 dias ou mais antes de ser identificado e, conseguir garantir a capacidade de identificar a ameaça rapidamente é crucial. O SOC utiliza ferramentas avançadas para garantir uma rápida detecção, como a utilização de ferramentas de XDR, SIEM (Security Information and Event Management) e SOAR (Security Orchestration, Automation and Response) para identificar padrões maliciosos, correlacionar eventos, automatizar e gerar alertas em tempo real para a equipe à possíveis ameaças, minimizando o tempo que um atacante tem para causar danos para as organizações. 

  RSA Conference 2022 – 2022_USA22_HTA-M05_01_Strong-Story-to-Tell-Top-10-Mistakes-by-Administrators-About-Remote-Work_1654099348955001KxG2.pdf 

  • Resposta a Incidentes : Quando um incidente ocorre, uma equipe bem coordenada faz toda a diferença na resposta do incidente, com um SOC estruturado e treinado, possuir um plano e treinamento para realizar a resposta de incidentes faz toda a diferença, os processos são rapidamente colocados em pratica, gerando a contenção e a erradicação da ameaça. Aplicar o plano de recuperação quando for necessário , realizar relatórios pós-incidente e a identificação da causa raiz, evitando futuras ocorrências. A falta de um plano de resposta eficiente pode levar a grandes perdas financeiras e gerar danos irreparáveis à reputação da empresa.  
  • Monitoração do ambiente 24hx7: Diferente de uma abordagem reativa, o SOC mantém um monitoramento constante, identificando ameaças comportamentais , processuais , físicas e evitando que vulnerabilidades sejam exploradas. Com a utilização de informações de threat intelligence, a detecção no estágio inicial faz toda a diferença para mitigar possíveis ataques. 
  • Políticas e Processos:  Uma equipe de SOC realiza o suporte durante o desenvolvimento da política de segurança da informação (PSI), planos de comunicação, planos de recuperação (backup e restore), apoio também em auditorias e fornecimento de relatórios, garantindo que os processos estabelecidos sejam seguidos para que tenhamos um aumento da postura de segurança do ambiente. 

Uma pesquisa disponibilizada pela empresa Palo Alto Networks, lider global em segurança cibernética, indicam números alarmantes para o Brasil. O pais tem sido um alvo frequente de ataques cibernéticos, sofrendo bilhões de tentativas de ataques no último ano e isso reforça a necessidade de manter um ambiente de segurança robusto. O apoio do SOC é fundamental nesta jornada e vem se tornando um elemento estratégico para as organizações.  

Referencias : 

Vol. 1 No. 20250411-252 (2025)

Importância de executar o básico bem-feito

João Paulo Gonsales | jgonsales@cylo.com.br | 11/04/2025

Recentemente participei de um treinamento em Segurança da Informação, ministrado por um experiente pesquisador na área de Cybersecurity, onde diversas reflexões foram levantadas e entre elas, a importância de mensurar os investimentos na área, por onde começar? O que seria mais importante, altos investimentos em ferramental ou investir em processos?

Acredito que para diminuir a superfície de ataque do ambiente, envolve mais do que investir no melhor firewall, ferramentas de endpoint ou um bom SOC. A falta de definição de uma política de segurança da informação, um plano de recuperação de desastre funcional ou uma governança na gestão de identidade (Acessos), aumentaria muito a superfície de ataque.

Inverter a ordem no seu planejamento, seria eficaz? Talvez, depende, mas baseado nos históricos de taticas utilizadas e exploradas por atacantes no ambiente, vulnerabilidades não somente estão relacionadas a patch de segurança ou investimento em ferramental, mas também, se aplica, a inexistência das políticas e processos bem definidos e novamente, que implementadas, diminuiria a superfície de ataque a ser explorada.

Essa reflexão originada pelo treinamento, me fez lembrar de uma frase que escutei a alguns anos de um prestador de serviços de tecnologia, “Fazemos o básico bem-feito”. A fala no momento não fez muito sentido, não era o que eu estava buscando no momento, mas hoje vejo que faz muito sentido, principalmente na área de Segurança da Informação.

Fazendo uma analogia com a frase “fazer o básico bem-feito”, com a inexistência dos processos citados acima, como iremos garantir uma boa implantação do ferramental. Acredito que faria sentido complementar a frase mencionada acima para “Fazer o básico bem-feito protege melhor que fazer um avançado mal configurado”.

Um bom exemplo de “fazer o básico”, poderíamos citar o processo de gestão de acesso , por exemplo, uma sanitização recorrente do serviço de Active Directory, onde a falta de gestão em itens como, contas de computador obsoletas , contas de usuário expiradas, contas de ex-funcionários ainda ativas, excesso de contas administrativas, permissões herdadas sem lógica, falta de políticas para correções de segurança do produto , aumentaria a superfície de ataque e o risco de segurança no ambiente.

Para iniciar esse processo de gestão de acesso no serviço de Active Directory, conseguimos bons resultados com a utilização de ferramentas nativas do sistema operacional, como por exemplo o Powershell e implementação de processos bem definidos na sua gestão.

Isso seria somente alguns pontos que se aplicarmos na rotina de gestão diariamente, conseguíramos mitigar diversos riscos no ambiente e a sua não implementação, prejudica diretamente a eficácia da gestão de acesos e compromete tanto a segurança quanto a governança da TI.

Podemos citar alguns ganhos com a realização da sanitização recorrente do AD, como :

– Redução de riscos de segurança – Contas abandonadas são portas abertas para ataques. Removê-las periodicamente reduz a superfície de ataque.

– Melhoria na governança e conformidade – Facilita auditorias e garante que apenas contas ativas e justificadas existam no ambiente.

– Eficiência operacional – Um AD mais enxuto melhora a performance, reduz a carga administrativa e evita erros em permissões e acessos.

– Monitoramento contínuo e ações preventivas – Rotinas de verificação ou a implementação de Dashboards , permitiriam identificar padrões de inatividade e agir proativamente.

 Seguir os processos bem definidos , usando o exemplo da utilização de scritps e ferramentas nativas, poderiamos definir que : scritps poweshell + recorrência(processos) = diminuição da superfície de ataque, segurança contínua e uma governança mais eficiente do ambiente.

 Esse é somente um exemplo claro do que chamamos de “básico bem-feito” na prática, onde com poucos recursos financeiros , a gestão de acesso se torna eficiente, sem a utilização de ferramentas caras, onde fazer o básico bem feito faz a diferença e melhora a postura de segurança, alinhando muitos ganhos na segurança e conformidade.

Deixo essa reflexão, que são situações rotineiras e de muita importância do analista, definir processos, seguir processos e fazer o básico bem-feito garante uma mudança positiva no ambiente.