Vol. 1 No. 20251118-1027 (2025)

Instabilidade na Cloudflare não é um ataque cibernético

Adriano Cansian | adriano.cansian@unesp.br | 18/11/2025

Nessa manhã de 18 de novembro de 2025, uma instabilidade global no serviço da Cloudflare causou interrupções generalizadas, afetando o acesso a grandes plataformas como o ChatGPT, X (antigo Twitter) e Canva [2]. Usuários no Brasil e no mundo relataram dificuldades de acesso e mensagens de erro, como a notificação “Please unblock challenges.cloudflare.com to proceed”.

Não há evidências de que a instabilidade da Cloudflare em 18 de novembro de 2025 tenha sido causada por um ataque cibernético. Com base nas declarações oficiais da empresa e nas análises de especialistas, o incidente parece estar relacionado a problemas internos de infraestrutura.

A falha, que começou por volta das 8h da manhã no horário de Brasília, foi atribuída pela Cloudflare a um “pico de tráfego incomum” em sua rede [1].

Se você receber a mensagem “Please unblock challenges.cloudflare.com to proceed“, não é necessário fazer nada. Esta é uma mensagem de erro relacionada à instabilidade interna da Cloudflare, e não um problema de bloqueio no seu dispositivo ou rede.

Veja no final dessa postagem, há um timeline a respeito dessa instabilidade.

Entretanto, este cenário evidencia a profunda dependência da internet global em um número restrito de provedores de infraestrutura. A Cloudflare, que gerencia aproximadamente 20% de todo o tráfego da web, atua como uma camada essencial de segurança e desempenho para milhões de sites [2]. Uma falha em seus sistemas, mesmo que temporária, tem um efeito cascata imediato e visível para usuários em todo o mundo.


O Ataque Recorde à Azure e a Ameaça Crescente das Botnets

Coincidentemente, a instabilidade da Cloudflare ocorreu no dia seguinte à divulgação, pela Microsoft, de detalhes sobre um ataque de negação de serviço (DDoS) de escala recorde que sua plataforma Azure sofreu. Em 24 de outubro de 2025, a infraestrutura da Azure mitigou com sucesso um ataque que atingiu um pico de 15.72 Tbps, originado pela botnet Aisuru [3].

Ainda que alguns veículos estejam especulando que esses eventos estão relacionados, ainda não, até o momento da escrita desse post, nenhuma evidência ou confirmação disso.

Este ataque massivo envolveu mais de 500.000 dispositivos IoT comprometidos, como roteadores e câmeras, e destaca o poder destrutivo que as botnets modernas podem alcançar. Embora a Microsoft tenha conseguido neutralizar a ameaça sem impacto para seus clientes, o episódio serve como um forte indicativo da crescente sofisticação e escala dos ataques cibernéticos contra a infraestrutura de nuvem 3.


Confusão com o Ataque à Azure

Uma fonte significativa de confusão é que duas grandes notícias de cibersegurança foram divulgadas quase simultaneamente:

Notícia 1: Instabilidade da Cloudflare (18 de novembro de 2025)

• Evento atual, em andamento.

• Causa: Pico de tráfego incomum, origem desconhecida.

• Impacto: Interrupção de serviços globais.

Notícia 2: Ataque DDoS à Azure (divulgado em 17-18 de novembro de 2025)

• Evento ocorrido em 24 de outubro de 2025.

• Causa: Ataque DDoS da botnet Aisuru.

• Resultado: Microsoft mitigou com sucesso, sem impacto aos clientes

Importante: O ataque à Azure ocorreu há quase um mês e foi mitigado com sucesso. A Microsoft apenas divulgou os detalhes técnicos do ataque nesta semana. Não há conexão entre o ataque à Azure e a instabilidade da Cloudflare.


Um Alerta para a Infraestrutura Crítica da Internet

Como dito, embora não haja, até o momento, nenhuma evidência que conecte a instabilidade da Cloudflare ao ataque contra a Azure, a ocorrência de dois eventos de tão grande magnitude em um curto espaço de tempo é um alerta contundente. Ambos os incidentes, cada um à sua maneira, expõem as vulnerabilidades inerentes à arquitetura centralizada da internet moderna.

A dependência de poucos grandes players, como Cloudflare, AWS e Azure, significa que uma falha técnica ou um ataque bem-sucedido pode ter consequências globais. A resiliência da internet depende da capacidade dessas empresas de não apenas inovar em segurança e desempenho, mas também de responder rapidamente a incidentes inevitáveis.

Para empresas e desenvolvedores, a lição é clara: a resiliência digital não pode ser terceirizada por completo. É fundamental adotar práticas de contingência, como arquiteturas multi-cloud, monitoramento proativo e planos de resposta a incidentes, para garantir a continuidade dos negócios diante de um cenário de ameaças e falhas cada vez mais complexo.


Referências:

[1] The Guardian. (2025, 18 de novembro). Cloudflare outage causes error messages across the internet.

[2] Reuters. (2025, 18 de novembro). Cloudflare outage easing after impacting thousands of internet users.

[3] Microsoft Azure Infrastructure Blog. (2025, 17 de novembro). Defending the cloud: Azure neutralized a record-breaking 15 Tbps DDoS attack.


Linha do tempo | Instabilidade da Cloudflare

A Cloudflare publicou as seguintes atualizações em sua página de status (referência: Página oficial de status da Cloudflare):

13:35 UTC (10:35 AM horário de Brasília): A empresa continua trabalhando na restauração dos serviços para clientes de serviços de aplicação. Alguns serviços já foram restaurados, mas o trabalho de recuperação ainda está em andamento.

13:13 UTC (10:13 AM horário de Brasília): A Cloudflare implementou mudanças que permitiram a recuperação do Cloudflare Access e do WARP. Os níveis de erro para usuários desses serviços retornaram às taxas anteriores ao incidente. O acesso WARP em Londres foi reabilitado.

13:09 UTC (10:09 AM horário de Brasília): O problema foi identificado e uma correção está sendo implementada.

12:21 UTC (9:21 AM horário de Brasília): A empresa reportou que os serviços estavam se recuperando, mas os clientes ainda poderiam observar taxas de erro acima do normal durante os esforços de remediação.

11:48 UTC (8:48 AM horário de Brasília): Início da investigação oficial do problema, confirmando degradação interna do serviço.


Vol. 1 No. 20250606-613 (2025)

De Botnet para… jogo online?

Yuri Augusto | yuri@cylo.com.br | 06/06/2025

Recentemente o IPS detectou diversos alertas suspeitos, onde alguns dispositivos, móveis estavam se conectando à botnets. Bom… no mínimo preocupante. A botnet? Sality botnet. Isso já pareceu estranho, pois todos os artigos encontrados na internet referentes à essa bonet, são datados de 10 anos atrás ou mais ainda mais antigos que isso. Mas é aquele negócio, melhor um falso positivo investigado do que um positivo não investigado, correto?

Todas as conexões que o IPS pegou (e algumas outras não alertadas pelo sistema) eram destinadas à porta 7500 UDP. O endereço? Tencent e Zenlayer, duas empresas de cloud. O maior problema ao realizar essas investigações é a teimosia do ser humano, e aqui não foi diferente. Bati cabeça com os endereços de destino e portas usadas, nenhum resultado. Afinal, os endereços não são maliciosos.

Ao parar e descansar um pouco, as sinapses voltaram a ocorrer, descansar a mente também ajuda a assimilar a informação. Se não encontrei nada referente à essas portas, hora de olhar outros logs, por exemplo, application control. E lá estava uma nova informação relevante, “Call of Duty Mobile”, apesar de ainda não ter certeza do que estava ocorrendo, pelo menos não é algo malicioso (ufa).

Agora a pesquisa ficou mais fácil, fazer a verificação dos endereços e portas utilizadas pelo jogo. E lá estava, as informações coincidem com todas as comunicações observadas no alerta.

Informações de endereços e portas retiradas do site do jogo.

Já cheguei até aqui, então vamos fazer a prova final? Instalar no próprio celular e avaliar as conexões de rede através do firewall (de quebra ainda tira um lazer). Pronto, paranoia controlada, todas as conexões “suspeitas” estão sendo realizadas pelo jogo.

Validação realizada pelo pcap, capturado pelo firewall.

Por fim, fica aquele questionamento “excesso de zelo” ou “perca de tempo”? Em um ambiente crítico, onde uma pequena falha pode levar à danos irreparáveis, com certeza é melhor prezar pelo excesso de zelo. Nunca assuma nada, sempre investigue.