Vol. 1 No. 20251115-962 (2025)

Alerta: Vulnerabilidade Crítica em Equipamentos Fortinet com Exploração Ativa

Adriano Cansian | adriano.cansian@unesp.br | 15/11/2025

Alerta Técnico – Vulnerabilidade CVE-2025-64446

Data: 14/11/2025
Severidade: Crítica – CVSS 9.8
Status: Explorada ativamente desde outubro/2025
Produtos afetados: FortiWeb 7.0 a 8.0 (múltiplas versões)

Resumo Executivo

Em 14 de novembro de 2025, a Fortinet e a Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA (CISA) divulgaram um alerta sobre uma vulnerabilidade crítica de Path Traversal (CWE-23) que afeta os produtos FortiWeb, o Web Application Firewall (WAF) da Fortinet. A falha, identificada como CVE-2025-64446, possui uma pontuação CVSSv3 de 9.8 (Crítica) e está sendo ativamente explorada por atacantes desde o início de outubro de 2025 1.

A vulnerabilidade permite que um atacante não autenticado execute comandos administrativos remotos em sistemas vulneráveis, levando a um comprometimento total do dispositivo. A CISA já adicionou esta falha ao seu catálogo de Vulnerabilidades Exploradas Conhecidas (KEV), com um prazo de remediação obrigatório até 21 de novembro de 2025


1. Visão Geral da Vulnerabilidade

A CVE-2025-64446 é uma vulnerabilidade crítica de Path Traversal (CWE-23) combinada com bypass de autenticação, permitindo que um atacante não autenticado execute operações administrativas via CGI (fwbcgi).

Esta é a terceira vulnerabilidade crítica da linha FortiWeb nos últimos 18 meses, reforçando o padrão preocupante de falhas severas na superfície de ataque de dispositivos de borda da Fortinet.

A falha ocorre em dois estágios principais:

  1. Path Traversal no endpoint /api/v2.0/…
  2. Impersonação via header CGIINFO (base64) aceito pela função cgi_auth() sem validação real

O resultado é o comprometimento total do dispositivo FortiWeb, com capacidade de persistência, desvio de políticas de segurança e movimentação lateral na rede.

A falha foi adicionada em 14/11/2025 ao catálogo CISA KEV (Known Exploited Vulnerabilities Catalog) com prazo de mitigação obrigatório até 21/11/2025.


2. Detalhes de Exploração

2.1 Estágio 1 – Path Traversal

No primeiro estágio, o atacante utiliza um endpoint de API válido para escapar do diretório esperado e alcançar o executável administrativo fwbcgi:

POST /api/v2.0/cmd/system/admin%3F/../../../../../cgi-bin/fwbcgi HTTP/1.1

O Path Traversal permite que requisições atinjam o binário fwbcgi, responsável por operações administrativas no dispositivo.

2.2 Estágio 2 – Impersonação via CGIINFO

O binário fwbcgi utiliza a função cgi_auth(), que:

  • não valida corretamente credenciais de autenticação;
  • aceita um header HTTP chamado CGIINFO;
  • confia em informações de identidade fornecidas em JSON, codificadas em Base64.

Exemplo de payload JSON, antes de ser codificado em Base64:

{
  "username": "admin",
  "profname": "super_admin",
  "vdom": "root",
  "loginname": "admin"
}

Quando esse payload é aceito, o sistema concede privilégios administrativos completos, permitindo ao atacante criar novas contas, alterar configurações e manter persistência no dispositivo.


3. Impacto Operacional

Um atacante que explore com sucesso a CVE-2025-64446 pode:

  • Criar usuários administradores persistentes e ocultos;
  • Modificar políticas, regras e perfis de proteção do WAF;
  • Desabilitar ou contornar mecanismos de segurança;
  • Exfiltrar dados inspecionados e registrados pelo WAF;
  • Realizar movimentação lateral a partir do dispositivo comprometido.

Por se tratar de um WAF de borda, a vulnerabilidade abre um vetor crítico para ataques internos a partir de um equipamento que, normalmente, é considerado parte da camada de proteção.


4. Versões Afetadas (Confirmadas)

ProdutoVersões Vulneráveis
FortiWeb 8.08.0.0 – 8.0.1
FortiWeb 7.67.6.0 – 7.6.4
FortiWeb 7.47.4.0 – 7.4.9
FortiWeb 7.27.2.0 – 7.2.11
FortiWeb 7.07.0.0 – 7.0.11

5. Ação Recomendada (Imediata)

5.1 Atualizar Firmware – Única Remediação Definitiva

A Fortinet disponibilizou versões corrigidas. (Fortinet PSIRT FG-IR-25-910). A atualização é a única forma de remediação completa:

Versão AtualAtualizar para
8.0.x8.0.2
7.6.x7.6.5
7.4.x7.4.10
7.2.x7.2.12
7.0.x7.0.12

5.2 Mitigação Temporária (Workaround)

Se a atualização não puder ser aplicada imediatamente, recomenda-se:

  • Bloquear o acesso HTTP/HTTPS externo às interfaces administrativas do FortiWeb;
  • Permitir acesso de administração apenas por redes internas ou via VPN segura;
  • Monitorar tráfego para /cgi-bin/fwbcgi e padrões anômalos envolvendo /api/v2.0/... com Path Traversal.

Atenção: a mitigação reduz a superfície de ataque, mas não elimina a vulnerabilidade. A atualização de firmware continua obrigatória.


6. Indicadores de Comprometimento (IoCs)

6.1 Rede / Proxy / WAF Logs

Procurar por requisições com padrão de Path Traversal direcionadas ao binário CGI:

/api/v2.0/cmd/system/admin%3F/../../../../../cgi-bin/fwbcgi

Além disso, monitorar requisições contendo o header CGIINFO com conteúdo Base64, principalmente oriundas de IPs externos ou não autorizados.

CGIINFO: <string_base64_suspeita>

IPs com múltiplas tentativas de POST para esses caminhos devem ser tratados como suspeitos, com correlação adicional em outros logs.

6.2 Sistema / Configurações

Nos próprios dispositivos FortiWeb, verificar:

  • Criação de novas contas de administrador, principalmente a partir de outubro de 2025;
  • Contas com perfil de acesso prof_admin ou super_admin não reconhecidas pela equipe de segurança;
  • Configurações de trust host definidas como 0.0.0.0/0 ou ::/0 em contas administrativas;
  • Alterações não autorizadas em políticas, perfis, certificados e regras de inspeção.

7. Procedimentos de Resposta a Incidente

Em caso de suspeita de exploração da CVE-2025-64446, recomenda-se o seguinte fluxo para equipes de Blue Team / CERT / CSIRT:

  1. Isolar o dispositivo: restringir acesso administrativo externo, mantendo apenas o mínimo necessário para análise e operação.
  2. Coletar logs: exportar logs de sistema, eventos, auditoria e administração para um servidor seguro de análise.
  3. Revisar contas de usuário: identificar contas administrativas novas ou modificadas, sobretudo com perfis elevados.
  4. Analisar headers CGIINFO: quando possível, decodificar strings Base64 para determinar tentativas de impersonação de administradores.
  5. Aplicar atualização de firmware para as versões corrigidas recomendadas pela Fortinet.
  6. Revalidar configuração: revisar políticas, objetos, perfis e parâmetros de segurança para identificar alterações maliciosas.
  7. Verificar persistência: buscar scripts, agendamentos, acessos remotos ou configurações suspeitas que indiquem backdoors.
  8. Monitorar pós-correção: manter monitoramento reforçado por pelo menos 72 horas após a atualização e a revisão de segurança.

8. Conclusão

A CVE-2025-64446 representa uma vulnerabilidade de alta criticidade em dispositivos FortiWeb, com exploração ativa e baixo nível de complexidade técnica para o atacante. Dispositivos expostos à Internet, principalmente em ambientes de alta criticidade, estão sob risco significativo.

A atualização para versões corrigidas deve ser tratada como prioridade máxima em planos de resposta a incidentes e gestão de vulnerabilidades, especialmente em:

  • Provedores de serviços de Internet (ISPs e provedores regionais);
  • Órgãos públicos e infraestruturas críticas;
  • Instituições financeiras e meios de pagamento;
  • Ambientes acadêmicos com grande exposição de aplicações web;
  • Empresas que utilizam o FortiWeb para proteger aplicações sensíveis.

Equipes de segurança devem tratar essa vulnerabilidade como um incidente de severidade máxima, combinando correção, caça a ameaças (threat hunting) e monitoramento contínuo.


Referências

Vol. 1 No. 20250910-948 (2025)

Alerta de Segurança: Vulnerabilidade Ativamente Explorada em Roteadores TP-Link

Adriano Cansian | adriano.cansian@unesp.br | 10/09/2025

Ameaça real a redes domésticas e corporativas

Nos últimos dias, a comunidade de segurança da informação voltou sua atenção para uma vulnerabilidade crítica que afeta roteadores da TP-Link, um dos fabricantes mais populares de equipamentos de rede do mundo.

Ainda que eu não acredite que essa vulnerabilidade sozinha possa representar grande risco para atores que não sejam de alto interesse, o uso combinado dessa vulnerabilidade com outras pode levar algum risco significativo, principalmente para pequenos negócios. De qualquer forma, não é bom ficar com vulnerabilidades em sua casa ou na sua empresa. Então, vamos explicar do que ela se trata e como mitigá-la, visto que o produto é descontinuado e ela não terá conserto definitivo.

A falha, identificada como CVE-2023-50224 está sendo ativamente explorada por agentes maliciosos, o que levou a Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura dos EUA (CISA) a incluí-la em seu catálogo de vulnerabilidades conhecidas e exploradas (KEV). Não é uma vulnerabilidade teórica. A exploração ativa desta falha é antiga e remonta a 2023, sendo atribuída a uma botnet com objetivos de espionagem.

Análise da vulnerabilidade CVE-2023-50224

  • Descrição: trata-se de uma vulnerabilidade de evasão de autenticação por spoofing no serviço httpd do roteador TP-Link TL-WR841N. A falha permite que um atacante acesse o arquivo /tmp/dropbear/dropbearpwd, que contém credenciais de usuário, sem precisar de autenticação. Essencialmente, a vulnerabilidade abre uma porta para o roubo de senhas do roteador.
  • Produtos afetados: O principal produto afetado é o TP-Link TL-WR841N, um modelo extremamente popular e amplamente utilizado em residências e pequenos escritórios. Infelizmente, este modelo é considerado End-of-Life (EoL), o que significa que o fabricante não fornecerá mais atualizações de firmware para corrigir a falha.
  • Data de publicação: A vulnerabilidade foi divulgada publicamente em 19 de dezembro de 2023, mas foi adicionada ao catálogo KEV da CISA em 3 de setembro de 2025, após a confirmação de exploração ativa.
  • Severidade: Média (CVSS v3.1: 6.5 - AV:A/AC:L/PR:N/UI:N/S:U/C:H/I:N/A:N). Embora a pontuação não seja classificada como “Crítica”, o impacto real, se explorada, é extremamente alto devido à facilidade de exploração e ao fato de levar ao comprometimento total do dispositivo.
  • EPSS: 4.50% (baixa probabilidade de exploração nos próximos 30 dias).
  • Percentil EPSS: 88.70% indica que a pontuação é igual ou superior à de aproximadamente 88.7% das outras vulnerabilidades catalogadas, representando um risco significativamente elevado. Entenda mais sobre “percentil” no EPSS [nesse link].
  • Outras informações: A exploração desta vulnerabilidade está associada à botnet Quad7 (também conhecida como CovertNetwork-1658), que tem sido ligada a grupos de ameaças com objetivos de espionagem. Em vez de usar os roteadores para ataques de negação de serviço (DDoS), os atacantes os transformam em proxies secretos para lançar outros ataques, como roubo de credenciais de serviços em nuvem (Microsoft 365, etc.).

O Impacto Real: O Que Significa Para Você?

O comprometimento de um roteador vai muito além da simples perda de acesso à internet. Um atacante com controle sobre seu roteador pode:

  1. Interceptar todo o seu tráfego de internet: Isso inclui senhas, dados bancários, e-mails e qualquer outra informação não criptografada que passe pela sua rede.
  2. Redirecionar seu tráfego para sites falsos: O atacante pode realizar ataques de phishing em nível de rede, redirecionando você para um site falso do seu banco, por exemplo, para roubar suas credenciais.
  3. Usar sua rede para atividades ilegais: Como mencionado, os roteadores comprometidos estão sendo usados como uma rede de proxies para lançar ataques contra outras vítimas. Isso significa que sua rede pode ser implicada em atividades criminosas.
  4. Atacar outros dispositivos na sua rede: O roteador pode ser usado como um ponto de partida para atacar outros dispositivos conectados à sua rede local, como computadores, smartphones e dispositivos de IoT (câmeras, assistentes de voz, etc.).

O fato de o TP-Link TL-WR841N ser um dispositivo EoL agrava enormemente o risco. Não haverá uma correção oficial do fabricante. Se você possui este roteador, ele permanecerá vulnerável para sempre.

Recomendações: O Que Fazer Agora?

Dado o risco e a falta de um patch, a recomendação é clara e urgente.

Mitigação Primária (Ação Imediata)

  • Substitua o roteador imediatamente: Esta é a única maneira de garantir que sua rede esteja protegida contra esta vulnerabilidade. Desconecte o TP-Link TL-WR841N e substitua-o por um modelo de um fabricante confiável que ainda receba atualizações de segurança.

Mitigações Secundárias (Medidas Paliativas)

Se a substituição imediata não for possível, tome as seguintes medidas para reduzir o risco, mas entenda que elas não eliminam a vulnerabilidade:

  • Desative o gerenciamento remoto: Certifique-se de que o painel de administração do seu roteador não esteja acessível a partir da internet (WAN).
  • Altere a senha do administrador: Use uma senha forte e exclusiva. Embora a vulnerabilidade permita o roubo dessa senha, alterá-la pode dificultar o acesso se o atacante ainda não tiver explorado a falha.
  • Isole a rede: Se possível, crie uma rede de convidados (Guest Network) para dispositivos menos confiáveis e use a rede principal somente para dispositivos essenciais.

Conclusão

Verifique o modelo do seu roteador. Se for um TP-Link TL-WR841N, é recomendado que você adote as medidas de mitigação. A CVE-2023-50224 é um lembrete dos perigos associados ao uso de hardware de rede desatualizado. Roteadores são a porta de entrada para a internet e, quando comprometidos, colocam toda a sua vida digital em risco. A exploração ativa desta falha por grupos organizados mostra que mesmo vulnerabilidades de severidade “Média” podem ter consequências devastadoras no mundo real.

Referências