Estamos cientes de pelo menos um agente de ameaça explorando vulnerabilidades importantes de execução remota de código (RCE) em produtos Fortinet, como FortiOS e FortiGate, que podem ser usadas para criar arquivos maliciosos ou explorar sistemas.
Estamos tratando aqui especificamente das vulnerabilidades catalogadas pela Fortinet como: FG-IR-22-398 (CVE-2022-42475), FG-IR-23-097 (CVE-2023-27997) e FG-IR-24-015 (CVE-2024-21762), todas relacionadas ao SSL VPN em dispositivos Fortinet.
Nesse ponto é importante observar que se o produto Fortinet não tem, e nunca teve, SSL VPN ativado, ele não é afetado por essas vulnerabilidades. Para determinar se um dispositivo Fortinet, como um FortiGate rodando FortiOS, tem ou teve o SSL VPN ativado é necessário fazer verificações na interface gráfica (GUI) ou na linha de comando (CLI) e, se julgar necessário, analisar logs ou configurações históricas.
Vamos analisar se há provas de conceito (PoCs – Proof Of Concept) públicas ou evidências de exploração para essas vulnerabilidades:
- FG-IR-22-398 / CVE-2022-42475
CVSS: 9,8 (Critical) – EPSS: 92,9% de chance de ataque (em 14/4/2025)
Essa é uma vulnerabilidade crítica de estouro de buffer baseado em heap no FortiOS SSL VPN, permitindo execução remota de código (RCE) sem autenticação. A Fortinet confirmou exploração ativa em dezembro de 2022, com indicadores de comprometimento (IoCs) como arquivos maliciosos (ex.: /data/lib/libips.bak) e conexões a IPs suspeitos. Há PoC público disponível para essa vulnerabilidade. A exploração real sugere que atores avançados desenvolveram seus próprios métodos, possivelmente devido à sua complexidade e ao foco em alvos governamentais.
- FG-IR-23-097 / CVE-2023-27997
CVSS: 9,8 (Critical) – EPSS: 87,3% de chance de ataque (14/4/2025)
Outro problema crítico de estouro de buffer no SSL VPN, também permitindo RCE sem autenticação. A Fortinet relatou exploração limitada em junho de 2023 e, presumivelmente, existe de uma PoC funcional, embora não amplamente divulgada. Um repositório no GitHub contém um exemplo de PoC que demonstra a corrupção da memória heap para executar código remoto. Esse PoC é funcional, mas requer adaptações específicas, indicando que atores de ameaça podem estar usando variantes para criar arquivos maliciosos ou backdoors.
- FG-IR-24-015 / CVE-2024-21762:
CVSS: 9,8 (Critical) – EPSS: 90,7% de chance de ataque (14/4/2025)
Essa vulnerabilidade de escrita fora dos limites no FortiOS SSL VPN foi reportada como potencialmente explorada em fevereiro de 2024. A Fortinet alertou para ataques reais, mas não há PoC pública confirmada até agora. A exploração envolve requisições HTTP maliciosas, e a falta de um PoC público pode refletir a recente divulgação ou esforços para limitar a disseminação de exploits. A recomendação da Fortinet de desativar o SSL VPN como mitigação sugere que atores de ameaça podem estar usando essa falha para acesso inicial e implantação de payloads maliciosos.
As três vulnerabilidades são alvos atraentes para atores sofisticados devido à exposição do SSL VPN na internet. A criação de arquivos maliciosos, como backdoors ou implantes, é consistente com o comportamento observado em explorações de RCE, especialmente em FG-IR-22-398, onde malwares personalizados para FortiOS foram detectados. Embora PoCs públicos sejam limitados, a exploração ativa indica que grupos de ameaça possuem exploits funcionais, possivelmente compartilhados em fóruns privados ou desenvolvidos internamente.
RECOMENDAÇÃO:
Há PoCs públicas confirmadas para FG-IR-22-398 (CVE-2022-42475) e FG-IR-23-097 (CVE-2023-27997), mas para FG-IR-24-015, não há PoCs amplamente disponíveis, embora explorações reais tenham sido reportadas. Entretanto, atores específicos podem estar de posse de algum código de ataque, ou códigos de ataque podem se tornar disponíveis em algum momento próximo ou vindouro.
Por esse motivo, nossa recomendação é aplicar os patches mais recentes [1] e, se possível, desativar o SSL VPN (obviamente, caso a VPN não seja utilizada), além de monitorar sistemas por IoCs, como arquivos ou conexões suspeitas.
Para mais informações sobre o tratamento das vulnerabilidades relacionadas com SSL VPN em produtos Fortinet, por favor consulte [1].
Referências:
[1] Carl Windsor – “Analysis of Threat Actor Activity”. Fortinet. 10 de abril de 2025.
https://www.fortinet.com/blog/psirt-blogs/analysis-of-threat-actor-activity

Adriano Mauro Cansian, Doutor em Física Computacional e Professor Associado e pesquisador da UNESP – Universidade Estadual Paulista, possui 30 anos de experiência em pesquisa, desenvolvimento e ensino de segurança cibernética. Fundador e coordenador do Laboratório ACME! Cybersecurity Research, e revisor das revistas “Computers & Security” e “International Journal of Forensic Computer Science“, consultor e membro de vários comitês e organizações técnicas para promover a pesquisa em segurança da informação, além de atuar como voluntário em organizações de governança da Internet.